Importância do M.E.L.D. na avaliação do risco cirúrgico de doentes cirróticos - Análise preliminar de 98 casos - O M.E.L.D. na avaliação do risco cirúrgico

  • Beatriz Pinto da Costa Assistente Hospitalar do Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universidade de Coimbra; Assistente Convidada da Clínica Universitária de Cirurgia III da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal
  • Francisco Castro Sousa Director do Departamento de Cirurgia e do Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universidade de Coimbra; Professor Catedrático de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal
  • César Carvalho Interno de Cirurgia Geral do Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Portugal
  • Marco Serôdio Interno de Cirurgia Geral do Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Portugal
  • Joana Moeria Interna de Cirurgia Vascular do Serviço de Cirurgia Vascular dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Portugal

Resumo

Introdução: A cirrose hepática constitui um conhecido factor de risco cirúrgico cuja quantificação é fundamental na avaliação pré-operatória. Estudos recentes sugerem que o M.E.L.D. (Model for End-Stage Liver Disease) pode constituir uma alternativa promissora à classificação de Child-Turcotte-Pugh como factor preditivo de mortalidade e morbilidade operatórias; a incorporação da natrémia e da idade (iM.E.L.D.) parece melhorar, ainda, a sua capacidade prognóstica.

Objectivos: Avaliar a importância do M.E.L.D. e do iM.E.L.D. na quantificação do risco cirúrgico de doentes cirróticos e comparar o seu valor prognóstico com o da classificação de Child-Turcotte-Pugh.

Material e métodos: Estudo retrospectivo de 98 doentes cirróticos operados, no nosso serviço, entre 1998 e 2007.

Resultados: Quarenta e nove por centro dos doentes pertenciam à Classe A da classificação de Child-Turcotte-Pugh; os valores médios do M.E.L.D. foram de 7,5±2,6 (1,6-15,2) e os do iM.E.L.D. de 31,5±6,1 (16,8-46,3). As taxas de mortalidade e morbilidade operatórias foram de 11% e 29%, respectivamente. O iM.E.L.D. constituiu um significativo factor prognóstico de mortalidade (aaR.O.C.=82%, 70,7-94,1; p=0,001), com potencial preditivo superior ao M.E.L.D. (aaR.O.C.=66%, 46,6-85,5; p=0,048) e à classificação de Child-Turcotte-Pugh (aaR.O.C.=62%, 40-84,5; p=0,037). O iM.E.L.D. foi mais elevado nos casos de mortalidade (37,7±5,6 versus 30,5±5,6; p=0,0001); a probabilidade de morte operatória foi de 3,6% (2,9-4,4) para valores inferiores ou iguais a 31, de 16% (13-19) entre 32 e 38 e 49,5% (37,9-61,7) quando superiores ou iguais a 39. O M.E.L.D. relacionou-se com a mortalidade como variável descontínua: valores superiores ou iguais a 12 associaram-se a uma taxa de mortalidade de 50% (versus 8,8%; p=0,002; odds ratio=7,4; IC 95% 2,8-19,2), com uma acuidade superior á da Classificação de Child-Turcotte-Pugh (89,7 versus 85,6%). 

Conclusões: Nesta série, o M.E.L.D. e o iM.E.L.D. (este utilizado pela primeira vez no contexto peri-operatório) revelaram-se factores preditivos de mortalidade e morbilidade operatórias em doentes cirróticos, com boa correlação e acuidade superior à clássica classificação de Child-Turcotte-Pugh; demonstraram, também, maiores capacidade discriminativa, objectividade e reprodutibilidade. Pelo que, a confirmarem-se os resultados deste estudo, virão a representar parâmetros com interesse particularmente relevante na avaliação do risco cirúrgico dos pacientes portadores de hepatopatias crónicas.

Palavras-chave: Risco cirúrgico, cirrose, Meld, iMeld, Child-Turcotte-Pugh 


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Publicado
2008-06-28
Como Citar
COSTA, Beatriz Pinto da et al. Importância do M.E.L.D. na avaliação do risco cirúrgico de doentes cirróticos - Análise preliminar de 98 casos - O M.E.L.D. na avaliação do risco cirúrgico. Revista Portuguesa de Cirurgia, [S.l.], n. 5, p. 7-18, june 2008. ISSN 2183-1165. Disponível em: <https://revista.spcir.com/index.php/spcir/article/view/252>. Acesso em: 01 june 2023.
Secção
Artigos Originais