Risco e Profilaxia do Tromboembolismo Venoso em Doentes Cirúrgicos
Resumo
Introdução: O Tromboembolismo Venoso (TEV) assume-se como uma das maiores causas de morbimortalidade prevenível em doen tes hospitalizados, constituindo assim um importante problema de saúde. A cirurgia condiciona um estado pró-trombótico, havendo necessidade comprovada de usar tromboprofilaxia adequada à estratificação de risco nestes doentes. Apesar das evidências da boa rela- ção custo-benefício, das guidelines e dos modelos de avaliação de risco, a profilaxia permanece subutilizada. O objetivo foi a estratificação do risco de TEV em doentes cirúrgicos, a avaliação do uso da profilaxia e a ocorrência de eventos tromboembólicos aos 6 meses de follow-up.
Material e Métodos: Durante o período de um mês, procedeu-se à estratificação de risco de acordo com o score elaborado pelo Capítulo de Cirurgia Vascular da Sociedade Portuguesa de Cirurgia (CCVSPC) e com o score de Caprini, verificando-se também a realização da profilaxia e a ocorrência de eventos tromboembólicos aos 6 meses de follow-up.
Resultados: O estudo envolveu 86 doentes (52.2% do sexo feminino) com idade média de 62,90 anos. Dos antecedentes médico-cirúrgicos recolhidos, os mais comuns foram as veias varicosas (28.4%), a história pregressa ou atual de neoplasia (20.9%), a obesidade (18.6%) e história de tromboembo- lismo venoso (15.1%). Durante o internamento, 22.2% foram submetidos a cirurgia minor, 44.2% a cirurgia major aberta e 11.6% a cirurgia laparoscópica. De acordo com o score do CCVSPC, 75.6% apresentaram risco tromboembólico elevado. Segundo este, foi prescrita profilaxia a 77.1% dos doentes com indicação para a receber. Mediante o score de Caprini, 89.6% tinham risco elevado ou muito elevado, tendo sido prescrita profilaxia a 72.0% dos que necessitavam. Aos 6 meses de follow-up, não ocorreu nenhum evento tromboembólico, não havendo significância estatística entre o grau de risco de acordo com o CCVSPC ou o score de Caprini ou entre a administração de profilaxia e a ocorrência de eventos tromboembólicos (p=1.000, p=0.164 e p=0.627, respetivamente).
Discussão: A maioria dos doentes estudados tinha elevado risco de tromboembolismo venoso. A profilaxia foi prescrita na maioria dos casos, sendo estatisticamente significativo (p=0.0002 e p=0.01) que os grupos que receberam profilaxia são os que tinham classificações de risco mais elevados. Não foram evidenciados eventos tromboembólicos aos 6 meses de follow-up.
Conclusões: A profilaxia farmacológica para o tromboembolismo venoso é ainda subutilizada. Parece haver uma melhoria de utilização de profilaxia em doentes cirúrgicos, comparada com a descrita no Estudo ENDORSE, no entanto, mantém-se inferior à observada noutros países europeus. O score do CCVSPC é facilmente aplicado, podendo ser uma ferramenta de primeira escolha para estratificação do risco de tromboembolismo venoso nos serviços de Cirurgia.
Palavras-chave: Tromboembolismo venoso, profilaxia, avaliação de risco, fatores de risco, doentes cirúrgicos
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