PASSOS EVOLUTIVOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SERVIÇO DE PRÉ-HABILITAÇÃO: DA CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO À PRÁTICA CLÍNICA

  • Marta Ubre Anaesthesiology Department, Hospital Clínic de Barcelona, Barcelona, Spain
  • Graciela Martínez-Pallí Anaesthesiology Department, Hospital Clínic de Barcelona, Barcelona, Spain; Institut d’Investigacions Biomèdiques August Pi i Sunyer, Universitat de Barcelona, Barcelona, Spain http://orcid.org/0000-0002-7163-8090

Resumo




A população cirúrgica está cada vez mais envelhecida, com necessidades médicas comple- xas (incluindo o descondicionamento físico resultante do estilo de vida sedentário)1. Este panorama vem colocar um importante desafio à equipa perioperatória, na medida em que se antecipa um aumento significativo das taxas de morbimortalidade pós-operatória. A baixa condição física e capacidade funcional reduz a capacidade de tolerar, mental e fisicamente, a hospitalização e a cirurgia, comprometendo a recuperação funcional pós-operatória e podendo levar ao desenvolvimento de complicações pós-operatórias e morte2.


A pré-habilitação multimodal surgiu nos últimos anos como uma intervenção inovadora que visa a otimização da resiliência fisiológica e psicológica para tolerar o impacto da cirurgia. Envolve um programa abrangente, preventivo, de curto prazo e centrado no doente, com duração de cerca de quatro semanas, desenvolvido para melhorar a capacidade aeróbia, o estado nutricional e psicológico do doente, e para otimizar as multimorbidades existentes3,4. O seu objetivo final é aumentar a capacidade funcional do doente, com o intuito de minimizar a morbilidade pós-operatória e de garantir uma recuperação mais rápida.





Vários estudos têm vindo a demonstrar que a pré-habilitação é uma estratégia segura e eficaz para prevenir complicações pós-operatórias e reduzir o tempo de hospitalização em diferentes populações cirúrgicas5-8. No entanto, apesar dos benefícios esperados, das recomendações emergentes de vários especialistas e do seu potencial na redução dos custos associados, a pré-habilitação encontra-se ainda sub- utilizada na prática clínica e a sua implementação impõe alguns desafios consideráveis para a maioria dos hospitais. Torna-se assim fundamental realizar uma avaliação abrangente do processo de implementação dos programas, com a finalidade de identificar os fatores essenciais para o seu sucesso e gerar recomendações para que a utilização deste tipo de serviços possa ser generalizada.


Neste artigo, descrevemos a nossa experiência na implementação de um programa de pré-habilitação multimodal como um serviço regular no Hospital Clínic de Barcelona (HCB). O projeto começou no contexto de um ensaio clínico randomizado (RCT) realizado entre 2013 e 2016, que mostrou a eficácia e o potencial na redução de custos da pré-habilitação. Seguiu-se o desenvolvimento do presente programa multimodal, que foi adaptado ao longo do tempo de acordo com os recursos disponíveis e o feedback fornecido pelos médicos e doentes. Ao longo dos anos, identificamos os fatores necessários para ampliar (scale-up) o serviço de pré-habilitação. Entendemos que para uma implementação bem-sucedida e alargada dos programas de pré-habilitação, são necessárias mais evidências sobre a sua eficácia em cenários mais próximos do mundo real, o programa deve ser padronizado e modularizado, e as plataformas digitais e dispositivos portáteis deverão ser exploradas para melhorar o acesso ao programa e garantir o empoderamento do doente na gestão do seu próprio processo de tratamento.







Downloads

Dados de Download não estão ainda disponíveis.

Referências

1. Palladino R, Tayu Lee J, Ashworth M, Triassi M, Millett C. Associations between multimorbidity, healthcare utilisation and health status: evidence from 16 European countries. Age Ageing. 2016;45(3):431-435.

2. Kim S, Marsh AP, Rustowicz L, Roach C, Leng XI, Kritchevsky SB, et al. Self-reported mobility in older patients predicts early postoperative outcomes after elective noncardiac surgery. Anesthesiology. 2016;124(4):815-825.

3. Carli F, Zavorsky GS. Optimizing functional exercise capacity in the elderly surgical population. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2005;8(1):23-32.

4. Carli F. Prehabilitation for the Anesthesiologist. Anesthesiology. 2020;133(3):645-652.

5. Barberan-Garcia A, Ubré M, Roca J, Lacy AM, Burgos F, Risco R, et al. Personalised prehabilitation in high-risk patients undergoing elective major abdominal surgery: A randomized blinded controlled trial. Ann Surg. 2018; 267(1):50-56.

6. Minnella EM, Liberman AS, Charlebois P, Stein B, Scheede-Bergdahl C, Awasthi R, et al. The impact of improved functional capacity before surgery on postoperative complications: A study in colorectal cancer. Acta Oncol. 2019; 58(5):573-978.

7. Hughes MJ, Hackney RJ, Lamb PJ, Wigmore SJ, Christopher Deans DA, Skipworth RJE. Prehabilitation before major abdominal surgery: A systematic review and meta-analysis. World J Surg. 2019; 43(7):1661-1668.

8. Barberan-Garcia A, Ubré M, Pascual-Argente N, Risco R, Faner J, Balust J, et al. Post-discharge impact and cost-consequence analysis of prehabilitation in highrisk patients undergoing major abdominal surgery: Secondary results from a randomised controlled trial. Br J Anaesth. 2019; 123(4):450-456.

9. Scheede-Bergdahl C, Minnella EM, Carli F. Multi-modal prehabilitation: addressing the why, when, what, how, who and where next?. Anaesthesia. 2019;74 Suppl 1:20-26.

10. Minnella EM, Awasthi R, Gillis C, Fiore JF Jr, Liberman AS, Charlebois P, et al. Patients with poor baseline walking capacity are most likely to improve their functional status with multimodal prehabilitation. Surgery. 2016;160(4):1070-1079.

11. Haskell WL. J.B. Wolffe Memorial Lecture. Health consequences of physical activity: understanding and challenges regarding dose- response. Med Sci Sports Exerc. 1994;26(6):649-660.

12. Borg GA. Psychophysical bases of perceived exertion. Med Sci Sports Exerc. 1982;14(5):377-381.

13. Tudor-Locke C, Craig CL, Aoyagi Y, Bell RC, Croteau KA, De Bourdeaudhuij I, et al. How many steps/day are enough? For older adults and special populations. Int J Behav Nutr Phys Act. 2011;8:79.

14. Braga M, Ljungqvist O, Soeters P, Fearon K, Weimann A, Bozzetti F; ESPEN. ESPEN Guidelines on Parenteral Nutrition: Surgery. Clin Nutr. 2009;28(4):378-386.

15. Malnutrition Advisory Group, a Standing Committee of BAPEN. Malnutrition universal screening tool. May 2003 (review August 2011). Available from: http://www.bapen.org.uk/pdfs/must/must_full.pdf.

16. Zigmond AS, Snaith RP. The hospital anxiety and depression scale. Acta Psychiatr Scand. 1983;67(6):361-370.

17. Hijazi Y, Gondal U, Aziz O. A systematic review of prehabilitation programs in abdominal cancer surgery. Int J Surg. 2017;39:156-162.

18. Wen D, Utesch T, Wu J, Robertson S, Liu J, Hu G, Chen H. Effects of different protocols of high intensity interval training for VO2max improvements in adults: A meta-analysis of randomised controlled trials. J Sci Med Sport. 2019;22(8):941-947.

19. Anael Barberan-Garcia, Ramon Martínez, Isaac Cano, Genevieve Shaw, Fernando Ozores, Ferran Pruneda, et al. Role of Design Thinking for adoption of integrated care: Scalability of a prehabilitation service. Available from: https://stimulo.com/portfolio/prehab/

20. Bazzano AN, Martin J, Hicks E, Faughnan M, Murphy L. Human-centred design in global health: A scoping review of applications and contexts PLoS One. 2017 Nov 1;12(11): e0186744.

21. Wadell K, Janaudis Ferreira T, Arne M, Lisspers K, Ställberg B, Emtner M. Hospital-based pulmonary rehabilitation in patients with COPD in Sweden--a national survey. Respir Med. 2013;107(8):1195-1200.

22. Ferreira V, Agnihotram RV, Bergdahl A, van Rooijen SJ, Awasthi R, Carli F, et al. Maximizing patient adherence to prehabilitation: what do the patients say?. Support Care Cancer. 2018;26(8):2717-2723.

23. Chen BP, Awasthi R, Sweet SN, Minnella EM, Bergdahl A, Santa Mina D, et al. Four-week prehabilitation program is sufficient to modify exercise behaviors and improve preoperative functional walking capacity in patients with colorectal cancer. Support Care Cancer. 2017;25(1):33-40.

24. Trepanier M, Paradis T, Kouyoumdjian A, Dumitra T, Charlebois P, Stein BS, et al. The Impact of Delays to Definitive Surgical Care on Survival in Colorectal Cancer Patients. J Gastrointest Surg. 2020; 24(1):115-122.
Publicado
2022-02-03
Como Citar
UBRE, Marta; MARTÍNEZ-PALLÍ, Graciela. PASSOS EVOLUTIVOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SERVIÇO DE PRÉ-HABILITAÇÃO: DA CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO À PRÁTICA CLÍNICA. Revista Portuguesa de Cirurgia, [S.l.], n. 51, p. 89-98, feb. 2022. ISSN 2183-1165. Disponível em: <https://revista.spcir.com/index.php/spcir/article/view/935>. Acesso em: 25 mar. 2023. doi: https://doi.org/10.34635/rpc.935.
Secção
Artigos Originais